Estudar em Lisboa tem muito que se lhe diga. Ao contrário de se estudar num meio menos movimentado, mais rural até, como Leiria, Lisboa é só por si o caos. Primeiro que se chegue à faculdade entra-se e sai-se de três transportes diferentes, muito diferentes do tão simples Mobilis, que me levava a todas as pontas da cidade de Leiria. Quanto aos preços, já nem vou por aí, então na cantina, quase que me era permitido almoçar todos os dias com o que pago agora, por uma refeição. Mas o que me marca mais, e infelizmente não pelas melhores razões, são as pessoas. Tenho em crer que em Leiria, pelo facto da maior parte das pessoas se deslocar da sua cidade para tirar o curso com que sempre sonhou, fazendo imensos esforços, as pessoas são mais honestas consigo próprias e com os outros. Não é cá cada um por si, é "vamos ajudar-nos uns aos outros que assim fica mais fácil". Por outro lado, têm uma mentalidade aberta, são bondosas, sonham e querem sempre mais. Hoje, tudo isso que tive a sorte de encontrar lá longe, não existe nada disso. Existe sim o "eu sou melhor que tu", existe também o "não és suficientemente boa para isto". Não há cá grandes pessoas com grandes mentalidades, mas sim crianças que por pura infelicidade vieram parar à faculdade, estoirando mais de quinhentos euros dos seus queridos e ricos pais para se andarem a pavonear na faculdade e dizer que estão a tirar um curso. Mas depois, também há uma pequena minoria que vai para a faculdade para aprender e absorver tudo o que é disponibilizado, com uma enorme vontade de aprender e saber sempre mais, e a fazer valer esses mesmos quinhentos euros, como grande investimento que são. Dizem que o mundo é dos espertos, mas cá para mim a esperteza nunca levou a lado nenhum, muito menos às carreiras de topo. Pode levar concerteza ao crescente número de enfermeiros/as que se queixam diariamente do que fazem e que não têm nem paciência para eles, nem para o número exorbitante de pessoas doentes e carenciadas com que lidam. É triste. Para mim, é tristeza, não pessoas espertas. E quem lida com elas todos os dias, quem tem que trabalhar com elas todos os dias, somos nós.
Isto foi escrito há cerca de uma semana. E quis crer que ia mudar. E mudou.