domingo, 7 de junho de 2009

Abandonada

Naquele momento já não tinha a certeza de nada. Estava perdida. Perdida no seu maior medo. Era como se tudo à sua volta tivesse desaguado. Estava completamente sozinha, sem conseguir alcançar nada que a conseguisse sustentar, sem encontrar o caminho de volta. Num assombro de memória, uma luz chegou ao seu pensamento, e, depois da chuva, depois do pânico e da vontade de desistir, largando tudo o que lhe era querido e tudo aquilo que lhe dera uma razão para continuar, pensou. E agarrou esse pensamento com toda a força que lhe restava. Não sabia porque razão se tinha lembrado dele neste momento, quando essa tinha sido a principal razão da sua dor. Mas, inexplicavelmente, sentiu de novo um calor, um conforto, com o qual já tinha vivido antes. Tudo isso lhe trouxe à memória muitos dos momentos que passaram juntos. Mas porque terá ido embora, depois de ter ajudado longos anos a suportar todo o mal que aparecera na vida de ambos? O que tinha mudado? Não compreendia. Não compreendia como é que alguém desistia de tudo aquilo que nos dava uma razão para viver, mas ela própria estava a cometer o mesmo erro. E isso é que lhe provocava um a dor intensa no peito, como se lhe estivessem a arrancar as entranhas. Não queria ser covarde, e desistir, como ele tinha feito. Só queria ter uma razão para não o fazer. Um sinal que fosse, que lhe dissesse que ele iria voltar, para continuar a amá-la e a confortá-la como sempre tinha feito. Só uma indicação, por mais pequena que fosse… qualquer coisa. E então, com o cansaço a pesar-lhe nas costas, caiu no meio do nada, vazia, com o pensamento em branco, esperando um sinal, uma luz. Os seus olhos permaneciam abertos, mas não brilhavam, e o azul ficava cada vez mais baço, quase sem expressão. Por favor, vem. Leva-me contigo de novo, gritava a sua alma. Mas não houve resposta. E então, ali permaneceu, aguardando…

***

-Diz de novo.
-O quê? – perguntou ele, beijando o seu pescoço com ternura, tirando-lhe a oportunidade de dizer fosse o que fosse.
-Que me amas.
Antes de falar, levantou-se e agarrou-lhe as mãos para que ficasse também de pé, e olhou bem fundo nos seus olhos. Então, como quem fala do fundo do coração disse
-Amo-te. Amo-te hoje, e sempre. Pertences-me da mesma maneira que eu te pertenço a ti. Somos o encaixe perfeito, e sem ti, a minha vida não seria mais vida. Morreria se deixasse de te ter. E quero que te lembres que o nosso amor é para sempre. Promete-me que não te esqueces disso, por favor.
Antes de ouvir a resposta afagou-lhe a face com as duas mãos e beijou-lhe os lábios muito suavemente. Ela, pondo os braços por cima dos ombros dele, sussurrou-lhe ao ouvido.
-Prometo. Amo-te
E ali permaneceram os dois, durante toda a eternidade, porque para eles, não havia fim. Ou pelo menos era assim que pensavam.

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