terça-feira, 28 de dezembro de 2010

365 cartas de amor

Houve uma altura em que me deixei levar pelo que não sabia ainda sentir e menosprezei dezenas de cartas, escritas por um alguém que também nunca soube amar. Eram cartas e cartas a cair na minha caixa de correio ou simplesmente deixadas junto ao tapete da entrada, acompanhadas de rosas, daquelas vermelhas que fazem qualquer mulher sentir-se desejada. Aquilo a mim não me dizia nada. Mal o conhecia e o que mais queria era por um fim a tudo... um Tudo que para ele existia, para mim não. E foi assim até encontrar um novo alguém. Esse novo alguém também não sabia amar. Seguia os clichés e ofereceu-me uma rosa porque lhe estava constantemente a falar no quanto gostava de flores. Não sabia proporcionar nada, nunca.
E depois chegou um outro alguém. Alguém esse que soube surpreender-me. Surpreendeu-me tão bem que me escreveu. Escreveu-me durante meses e meses... Nunca lhe pedi nada e deliciava-me com as constantes cartas que chegavam. E depois as rosas, oh tantas que foram! Eu também lhe escrevi, não para compensar, porque nada havia para compensar, mas para entrar no jogo. Sabia bem, era como se vivêssemos num mundo nosso, imaginado e delineado por nós, em cada palavra que suavemente deixavamos marcada no papel. Continuava a escrever-me à medida em que eu me embrenhava cada vez mais no que me era dado a conhecer... e apaixonei-me. Cada gesto me fazia apaixonar mais e mais.
Hoje, sou eu que faço a surpresa, para recriar aquilo que, por falta de tempo, oportunidade, o que lhe quiserem chamar, deixámos cair em caixas cuidadosamente organizadas e arrumadas, um pouco em esquecimento. E faço tudo com gosto, dedicação e com a maior nostalgia, porque, há tempos, quando peguei no monte de cartas para rele-las, apaixonei-me pela relação que fizemos crescer com uma simples folha de papel.




E sei que vai dar-me o maior gozo, quando for mais velha e já mal me lembrar da tua caligrafia, pegar nos montes de folhas, envelopes envelhecidos pelo tempo, fotografias já sem cor... e sonhar, sonhar com os bons tempos que vivemos.

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